Do ponto
de vista ambiental, a conta da agropecuária simplesmente não fecha. Na verdade,
a médio prazo, essa indústria está gerando um prejuízo enorme – e irreparável.
Inacreditavelmente,
três empresas no mundo detêm o incrível poder de determinar como se dá a
utilização dos principais recursos do planeta (solo, água, florestas, rios,
oceanos, atmosfera e toda a biosfera). São elas a Cargill, Tyson e a brasileira
JBS (dona da Friboi, Swift, Seara e outras). O grande problema é que o lucro,
para elas, está acima de qualquer outro fator, e isso está causando prejuízos
irreversíveis para o planeta. (Conheça aqui alguns dos
maiores prejuízos causados por essa indústria).
O mais
assustador é o fato de essa indústria ser tão monstruosamente grande e poderosa
que chega a pesar de forma bastante significativa no PIB de alguns países. Esse
mesmo poder econômico que assusta ambientalistas atrai a atenção de governantes
que, movidos a uma visão estreita e obsoleta da realidade, colocam seus
esforços no que dá retorno imediato, sem se preocuparem com as consequências a
médio e longo prazo.
Um
levantamento feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional (GIZ)
mostrou que, para cada R$1 milhão faturado pela pecuária, são gerados R$22
milhões em impactos ambientais. Estamos simplesmente empurrando com a barriga
problemas sérios que se agravarão nos próximos anos. A agropecuária é
responsável por 90% do desmatamento da Amazônia, por pelo menos 50% de toda
água doce consumida no mundo, e ainda é a maior responsável pela poluição de
rios e pelo processo de degradação e desertificação do solo (que já chega a 1/3
de toda superfície terrestre). Veja a íntegra do documento do estudo aqui (em inglês).
A
agropecuária hoje é responsável por quase 5% do PIB brasileiro, o que significa
algo em torno de R$240 bilhões – isso requer um investimento equivalente a R$10
trilhões de reais em reparos ambientais ao ano (se de todo possíveis). Com
projetos em busca de retorno financeiro imediato, o governo vê o setor como a
menina dos olhos de ouro. Entre 2015 e 2016 os cofres públicos irão
disponibilizar R$187 BI em crédito para o setor. É importante enfatizar que,
além da facilidade na obtenção de valores tão altos em condições extremamente
favoráveis, o Brasil ainda oferece um dos maiores subsídios do mundo para a
pecuária. Quem paga a conta disso é a totalidade da população: quem apoia e
quem não apoia essa indústria, e principalmente as futuras gerações, que
poderão não ter um planeta habitável para viver.
No momento
em que o país enfrenta sua pior crise moral, é alarmante ver que o governo
utiliza seus esforços e recursos para patrocinar e incentivar uma prática tão
antiética e insustentável, pensando unicamente no lucro a curto prazo. Nos
últimos sete anos, por exemplo, somente os frigoríficos receberam do BNDES
R$12,8 BI em compras de ações mais R$3,2 BI em empréstimos diretos.
Segundo
informações da Bloomberg e do El Pais, após uma década de aquisições, a JBS
hoje é um império com um faturamento anual de 92,9 bilhões de reais. Mas essa
década de expansão teve efeitos negativos para o grupo, principalmente no que
se refere ao endividamento. No fim do exercício de 2013, a dívida líquida da
JBS era de 23,748 bilhões de reais, ou 102,7% de sua capitalização em bolsa.
O Estado
brasileiro é o credor de grande parte dessa dívida, pois respaldou o
crescimento da empresa por meio da compra de títulos. Isso também se reflete na
composição do capital. O Estado é o segundo acionista da JBS, depois da família
Batista: 25% dos títulos são propriedade da divisão de participações do BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES) e 10% está nas
mãos da Caixa Econômica Federal. Em 31 de dezembro de 2013, 35% das ações do
grupo tinham valor de mercado superior a 2,6 bilhões de euros.”
O BNDES
afirma que na Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Governo Federal, o
setor de carnes ocupa lugar de destaque nas “estratégias de desenvolvimento de
empresas e sistemas produtivos”.
É
absolutamente necessário revermos, com extrema urgência, a forma como o governo
utiliza o dinheiro público para a obtenção de novas receitas sem a menor
preocupação com o planeta e os recursos naturais dos quais depende a nossa
existência.
FONTE: