BIODIVERSIDADE

Existe a enorme diversidade de plantas nas regiões tropicais,  na Amazônia são em torno de 400.000 espécies e para garantir não somente o uso máximo de cada metro quadrado de solo mas, também, para garantir a máxima diversidade de vida diversidade de micróbios e insetos dentro do solo, que, em parte, vivem dos resíduos vegetais, e em parte comem e são comidos numa cadeia ou pirâmide alimentícia. Assim ninguém sofre foi temas também nenhuma espécie pode multiplicar-se explosivamente. 

Quanto maior a diversidade de plantas, tanto maior a diversidade dos micro e meso-seres no solo que por sua vez, mobilizam o máximo de nutrientes para as plantas. Aqui não se necessita procurar “o Inimigo natural” porque todos controlam todos e qualquer parasitismo é excluído. O inimigo natural somente interessa quando o equilíbrio for destruído, e quando o solo for explorado unilateralmente em mineiras nutritivos e as plantas forem mal nutridas e “doentes”. E para que exista a máxima diversificação dentro das espécies, o máximo número de variedades, existe a multiplicação sexuada. Esta aumenta em muito a possibilidade de seres diferentes, onde sempre um ou outro será adaptado a uma situação nova, diferente, talvez adversa. Isso garante a sobrevivência durante os milênios. Nada é estável, tudo está em constante movimento, modificando-se e adaptando-se.

Durante os cinco milênios em que o homem se dedicou a agricultura criou milhares de variedades diferentes, adaptadas ao solo e ao microclima. Assim existiam ao redor de 100.000 variedades de arroz, somente na Indonésia. Os híbridos a reduziram a 7. Existiam na China 14.000 variedades de soja, atualmente existem ainda 6. A Turquia possuía 1.200 variedades de linho, hoje existe 1 híbrido.
O Peru tinha 1.400 variedades de batatinhas, hoje não chegam mais a cem.
Um exemplo de variedade adaptada é o nosso antigo trigo “Frontana” criado em Bagé/ RS, adaptado a um solo ácido com até 25 mmol de alumínio. Este trigo medrou bem sem adubo mineral Nesta época exigiu-se um peso hetolítrico de 80 a 85. As variedades atuais de trigo necessitam adubos minerais e defensivos, não medram mais que o Frontana e conseguem um peso hetolítrico somente de 74 a 76, quer dizer, fornecem um grão de qualidade muito inferior.

A tecnologia está diminuindo drasticamente a biodiversidade, não está mais criando variedades adaptadas ao solo e ao clima, onde se produziam sem uso de adubos químicos isto é quimicamente refinados e de defensivos. 

As variedades atuais, muitas vezes híbridas, somente são adaptadas a altas doses de NPK e herbicidas muito tóxicos, exigindo, portanto, todo pacote tecnológico para poder produzir. E se existem variedades estocadas em bancos de germoplasma para proteger genomas naturais contra o desaparecimento, estas variedades, forçosamente, precisam ser plantadas de vez em quando, para manter sua força germinativa. Mas não se pensa, que o plantio em condições diferentes, por exemplo, batatinhas do alto dos Andes de Peru replantadas em México, logo se adaptarão às condições novas e não serão mais o que se colheu originalmente no seu lugar de origem.

O mesmo acontece com plantas retiradas da mata amazônica ou de alguma região semiárida. Em cada replantio as variedades mudam e o genoma original se perde, porque precisa ser adaptado à nova realidade.

A multiplicação por clonagem ou apomictica exclui qualquer adaptação a modificações de clima e de solo. As colheitas, de plantas rigorosamente iguais, proporcionam um lucro maior às fábricas de beneficiamento.

Mas as plantas perderam a possibilidade de adaptação. Agora dependem exclusivamente do homem e de sua capacidade de criar novas variedades em tempo hábil, para atender as necessidades ou desenvolver uma tecnologia cada vez mais sofisticada para poder criar estas culturas em um ambiente completamente artificial. Qual o preço dos alimentos ninguém sabe e provavelmente não contribui para diminuir a fome no mundo, que é quase exclusivamente por causa de falta de poder aquisitivo.

FONTE:
O solo tropical - Perguntando sobre solo

Ana Primavesi

ANA PRIMAVESI